Segundo um dos líderes da Ordem de Santo Agostinho, o papa Leão 14, escolhido pelo conclave na última quinta-feira (8), leva Deus dentro de si para o pontificado, uma característica dos agostinianos.
“Um agostiniano leva três coisas para o papado”, disse à Folha o padre australiano Anthony Banks, assistente-geral da ordem. “A primeira é a interioridade: ir para dentro de si para encontrar Cristo. Santo Agostinho passou 33 anos em busca de Deus e por fim disse: ‘Procurei Deus em toda parte e agora O encontrei dentro de mim.'”
O americano Robert Prevost é o primeiro papa agostiniano. Fundada em 1244 por frades italianos, a ordem segue os preceitos de santo Agostinho (354-430), filósofo e teólogo que, em suas célebres “Confissões”, discute onde encontrar Deus.
Prevost iniciou o noviciado na ordem em 1977, aos 22 anos, e fez o voto solene em 1981. O padre Banks o conhece desde essa época: “Eu estudei em Washington, ele em Chicago. Temos uma antiga relação, ele é como um irmão.”
A segunda característica agostiniana de Leão 14, prosseguiu Banks, é o amor pela Eucaristia, o sacramento católico que lembra o sacrifício do corpo e do sangue de Jesus Cristo. Isso se reflete, segundo ele, no estímulo ao trabalho comunitário dos fiéis. “Um agostiniano ajuda as pessoas a se tornarem a Eucaristia, construindo a sociedade.”
Em seu primeiro discurso da sacada da Basílica de São Pedro, depois de ser escolhido por mais de cem dos 133 cardeais votantes —segundo os bastidores que agora vêm à tona— o novo papa disse: “Sou um filho de santo Agostinho, agostiniano, que disse: ‘Convosco sou cristão e para vós sou bispo.’ Nesse sentido podemos todos caminhar juntos em direção àquela pátria que Deus nos preparou.”
A terceira característica, para Banks, é a devoção de todo agostiniano a Nossa Senhora do Bom Conselho. A força dessa devoção ficou evidente em um gesto simbólico de Leão 14: a primeira visita papal fora do Vaticano, no sábado (10), foi ao santuário dedicado a ela em Genazzano, cidade de 5.000 habitantes na periferia de Roma.
Essa veneração tem origem em uma lenda do século 15. Reza a tradição que anjos teriam transportado da Albânia para a igreja de Genazzano um afresco da Virgem Maria com o Menino Jesus nos braços, salvando a pintura da destruição pelos soldados turcos.
Para o padre Banks, reside nessa veneração, em parte, a explicação para o nome adotado pelo novo pontífice. Leão 13, papa entre 1878 e 1903, nasceu a apenas 40 quilômetros de Genazzano e era devoto de Nossa Senhora do Bom Conselho.
No sábado, em discurso aos cardeais, Prevost reconheceu que Leão 13 foi a principal inspiração para sua escolha, em razão de sua preocupação social. “Leão 13 ajudou a revitalizar a ordem aqui na Itália, no século 19”, explicou Banks. “A escolha desse nome tem várias camadas.”
O assistente-geral dos agostinianos elogiou a calma de seu colega de ordem, agora papa. “Ele chefiou o Dicastério para os Bispos [órgão do Vaticano que cuida da escolha dos bispos] de maneira calma. Teve dificuldades no posto e encarou todas, lidando com elas de forma muito serena, direta e suave. Estamos incrivelmente orgulhosos dele.”