Juan Manuel Galán, 52, é o primogênito de Luis Carlos Galán, o carismático líder liberal assassinado em plena campanha presidencial de 1989 na Colômbia, em um comício em Soacha. Naquela época, o país vivia um sangrento ciclo de violência política. Além da atuação das guerrilhas, estavam ativos dois famosos cartéis de narcotráfico, o de Medellín e o de Cali. Luis Carlos, cansado de enterrar amigos, ministros, donos de jornais e políticos, decidiu bater de frente contra os barões da droga. Pagou com a própria vida. Aos 45, foi baleado em um ato público e morreu horas depois.
Quando isso ocorreu, Juan Manuel tinha apenas 17 anos. No funeral do pai, foi ele quem, com voz embargada, pediu publicamente que César Gaviria assumisse a candidatura deixada vaga. Gaviria aceitou o desafio, venceu as eleições e comandou o país (de 1990 a 1994) durante a caçada a Pablo Escobar, cuja morte diluiu o cartel de Medellín.
Hoje, mais de três décadas depois, Juan Manuel é pré-candidato à sucessão de Gustavo Petro nas eleições do ano que vem. Como alguém que vivenciou a violência política de modo tão doloroso, ele manifestou solidariedade ao também presidenciável Miguel Uribe Turbay, alvo de um atentado no último sábado (7).
Sobre o atentado contra Uribe, ele disse em entrevista à Folha que recebeu a notícia “como um pesadelo que nós, colombianos, vivemos há muitos anos: a violência”. “Os órgãos de investigação estão fazendo seu trabalho. Devemos apoiá-los, dar-lhes tempo e todos os recursos para estabelecer quem está por trás e o que motivou esse atentado covarde”, declarou. “É prioritário reduzir a agressividade no discurso político —especialmente nas redes sociais, em grupos de WhatsApp, entrevistas e pronunciamentos. Todos somos responsáveis pelo tom do debate, mas o mais responsável é quem tem mais poder: o presidente da República.”
Juan Manuel, que hoje preside o partido Nuevo Liberalismo, fundado pelo pai, foi senador alinhado ao ex-presidente Juan Manuel Santos e opositor do Centro Democrático, partido de Uribe. Embora tenha apoiado a eleição de Petro, hoje é um crítico de seu governo.
Juan Manuel acredita que a violência política na Colômbia hoje tenha um caráter diferente do que o daquela época. “Há 35 anos, enfrentávamos a ameaça de dois grandes cartéis do narcotráfico. Hoje, são pelo menos 50 estruturas criminosas financiadas pelo tráfico de cloridrato de cocaína. O Estado colombiano dispõe hoje de mais capacidades para enfrentar essa ameaça, mas a cooperação internacional é fundamental, especialmente a de países amigos e fronteiriços, como o Brasil.”
Se eleito, o ex-senador disse que investirá em inteligência e no esforço em expandir o Estado de Direito a todo o território do país, principalmente nos departamentos (estados) em que o governo tem dificuldade de estar presente.
Do pai, afirma que guarda as principais lições políticas. “O mais importante de seu legado é a liderança pelo exemplo. A coerência na defesa de princípios e valores como honestidade, integridade, sinceridade, não violência, transparência na gestão pública e combate ao clientelismo”, afirmou Juan Manuel.
“Sempre tenho presente em minha memória seu exemplo de vida e o amor por sua causa: uma Colômbia em que o justo não seja um privilégio. Ele entregou a vida por amor à Colômbia. Um tipo de liderança positiva, construtiva e inspiradora, que não se encaixa em direita, esquerda ou centro, e que sempre olha para frente”, declarou.