Sem apresentar provas, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse ter sido vítima de uma “conspiração de traição” de funcionários do governo de Barack Obama durante a campanha presidencial de 2016 —alegação que o ex-presidente negou, em rara resposta a afirmações do republicano.
Na última sexta-feira (18), a diretora de inteligência Nacional, Tulsi Gabbard, divulgou documentos sigilosos e disse que as informações que estavam vindo à público revelavam uma conspiração conduzida por funcionários de alto escalão de Obama para minar a candidatura de Trump em 2016, quando o republicano venceu o pleito.
Ela se refere às apurações sobre a tentativa de interferência da Rússia na eleição presidencial daquele ano. Gabbard minimiza os achados de diversas investigações segundo as quais Moscou tentou abalar a democracia americana e favorecer Trump e afirma que “fabricaram e politizaram a inteligência para lançar as bases para o que foi essencialmente um golpe de anos contra o presidente”.
Em janeiro de 2017, a inteligência americana concluiu que a Rússia, usando desinformação nas redes sociais, tentou prejudicar a campanha da democrata Hillary Clinton, então adversária do republicano. Segundo a avaliação, o impacto real foi provavelmente limitado e não alterou os resultados da votação.
Três anos depois, em 2020, um relatório bipartidário do Comitê de Inteligência do Senado concluiu que Moscou utilizou o agentes como o político republicano Paul Manafort e o site WikiLeaks para tentar influenciar a eleição de 2016 e ajudar a campanha de Trump.
Durante seu primeiro mandato, em 2018, o republicano declarou que aceitava “a conclusão da inteligência de que houve intromissão russa nas eleições de 2016”. Nesta terça, porém, o presidente faz eco ao que Gabbard afirma, que vai na contramão do investigado à época.
As novas evidências são superficiais e desconsideram descobertas mais bem fundamentadas, segundo o jornal americano The Washington Post —o que não impediu Trump de afirmar que as supostas provas são suficientes para uma investigação criminal contra Obama.
“Está aí, ele é culpado. Isso foi traição”, disse Trump nesta terça, sem apresentar novas provas. “Eles tentaram roubar a eleição, tentaram ofuscar a eleição. Fizeram coisas que ninguém jamais imaginou, mesmo em outros países.”
Ele afirmou ainda que era hora de “ir atrás das pessoas” e que o ex-presidente “foi pego”. “É Obama. Suas ordens estão no papel. Os papéis estão assinados. Os papéis chegaram direto ao escritório deles. (…) O que eles fizeram em 2016 e em 2020 é muito criminoso. É criminoso no mais alto nível”, disse Trump a jornalistas.
Em um comunicado, o porta-voz do democrata, Patrick Rodenbush, afirmou que, embora o ex-presidente “normalmente não dignifique o constante absurdo e a desinformação que fluem desta Casa Branca com uma resposta”, as novas acusações, que ele chamou de bizarras e ridículas, mereciam uma.
“Nada no documento divulgado na semana passada enfraquece a conclusão amplamente aceita de que a Rússia trabalhou para influenciar a eleição presidencial de 2016, mas não manipulou com sucesso nenhuma votação. Essas conclusões foram confirmadas em um relatório de 2020 do Comitê de Inteligência do Senado bipartidário, liderado pelo então presidente Marco Rubio”, escreveu Rodenbush, referindo-se ao secretário de Estado de Trump. “Essas alegações bizarras são ridículas e uma tentativa fraca de distração.”
Obama não costuma responder às provocações do republicano, mesmo sendo seu alvo há anos. Em 2011, por exemplo, Trump acusou o democrata de não ter nascido nos EUA, o que levou o ex-presidente, ainda na Casa Branca, a divulgar uma cópia de sua certidão de nascimento.
Nos últimos meses, Trump aumentou a artilharia contra seus dois antecessores. Ele iniciou uma investigação após acusar o ex-presidente Joe Biden e sua equipe, sem provas, de usar um dispositivo automatizado que replica assinaturas para assinar documentos confidenciais, algo que o democrata negou.
Também nesta terça, republicou nas redes sociais um vídeo feito com inteligência artificial que mostra Obama sendo preso no Salão Oval da Casa Branca, provocação à qual o democrata não reagiu.
A mais recente acusação sobre um golpe em 2016, foi levantada quando Trump ouviu questionamentos sobre a pressão de sua base conservadora em relação a Jeffrey Epstein, que cometeu suicídio em 2019 enquanto aguardava julgamento por acusações de tráfico sexual.
Conspiracionistas do caso, muitos deles apoiadores de Trump, pediram ao presidente, que conviveu com o magnata durante a década de 1990 e início dos anos 2000, a divulgar os arquivos relacionados ao caso.